O século da psicanálise


   Na lista dos nomes que mais influenciaram os rumos da civilização ocidental nos últimos 100 anos, o de Sigmund Freud certamente ocupa lugar de destaque. O criador da psicanálise inaugurou uma nova maneira de compreender o ser humano – longe dos dogmas religiosos tanto quanto da febre da razão voltada para a produção, que se abateu, como uma epidemia, sobre a Europa (e sobre o restante do mundo ocidental) a partirdo século 19.


   A complexidade do ser humano, o conceito de consciência individual e a noção de profundidade na vida psíquica foram temas centrais de seus estudos e de sua prática psicanalítica, e
Freud deixou uma marca indelével sobre as humanidades de um modo geral, influenciando campos tão diversos como a antropologia, a educação, a arte e a literatura.
 
   Assim, esta edição da Revista 18 dedica dez de suas páginas a uma longa conversa com Fábio Landa, psicanalista e médico brasileiro há quase duas décadas radicado em Paris, onde se dedica ao ensino e à clínica, e um dos mais lúcidos representantes do pensamento psicanalítico contemporâneo. Landa analisa os rumos da psicanálise hoje, sempre tendo em vista, como Freud, sua ligação inextricável com as artes, com a estética, com a literatura e com a filosofia. E conclui que, num mundo onde outra vez os fanatismos – da religião tanto quanto das políticas laicas de opressão – ameaçam, de maneira cada vez mais avassaladora, a consciência e a liberdade individuais, a psicanálise preserva um espaço laico de reflexão e de lucidez.


   Freud é representante de um pensamento judaico europeu, de molde cosmopolita, tributário da tradição do humanismo, do pensamento científico e também do judaísmo. E as implicações políticas de seu pensamento estão vinculadas a ideais de democracia e de pacifismo que se tornam a cada tanto mais voláteis e ilusórios no mundo contemporâneo. A manipulação da consciência, seja por meio do terror puro e simples, seja por meio do fanatismo religioso, seja por meio da torrente incessante da propaganda, está na ordem do dia num mundo em que a retórica da ameaça, da demonização e do ódio ocupam, cada vez mais, o território do diálogo, do respeito mútuo, da emancipação. A psicanálise, portanto, é mais atual (e necessária) do que nunca: um século e meio depois de seu nascimento, Freud ainda explica.

Por Alessandra Palma

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